segunda-feira, 17 de julho de 2017

As tartarugas podem voar | Análise freudiana




O filme “As tartarugas podem voar” tem como pano de fundo a eminente invasão das tropas americanas no Iraque. A história se passa na fronteira entre o Irã e a Turquia. Um garoto que é chamado de Satélite assume a responsabilidade de liderança entre as crianças refugiadas a fim de que trabalhem desarmando minas terrestres americanas para vendê-las no mercado negro para conseguir alimento. Entre as crianças de várias idades, há muitas mutiladas devido à explosão das minas, algumas sem mãos, pernas ou braços.

O garoto Satélite não se destaca apenas pela sua liderança, mas também pelo seu esforço em tentar falar e entender a língua inglesa, fazendo principalmente o papel de tradutor das poucas palavras que entendia dos noticiários americanos. Todos permanecem em constante tensão. Satélite instala antenas e sintoniza os canais disponíveis a fim de que tenha informações sobre a guerra. Uma antena parabólica é instalada na casa dos principais do vilarejo.

Satélite se apaixona por Agrin, uma garota muito introspectiva que anda sempre na companhia do seu irmão Hengov, mutilado devido ao trabalho nas minas terrestres. Agrin e Hengov cuidam de uma criança com idade aproximada de 2 a 3 anos que todos a tem como irmão, no entanto no decorrer do filme descobre-se que na verdade o menino é filho de Agrin. Depois que seus pais foram assassinados, Agrin foi estuprada por soldados e ficou grávida prematuramente. Assim entendemos o porquê ela trata a pequena criança com desprezo e desamor, porque na verdade o menino representa a lembrança materializada bem ali na sua frente de todo o seu sentimento de terror, luto e perda irreparável causada pela guerra. Agrin tem a forte ânsia de sair daquele lugar e abandonar o seu filho a quem ela mesma o chama de bastardo.

Relacionando o texto “Mal-estar da civilização” de Freud ao enredo do filme, principalmente à personagem Agrin, percebe-se que ela a todo momento procura se livrar do sofrimento. Um sofrimento vindo do exterior. 

Freud diz que surge nos indivíduos a tendência de afastar do Ego (elemento que se apresenta como o “Eu” do indivíduo) sensações desprazerosas. São os chamados mecanismos de defesa.

Vê-se na personagem Agrin o isolamento pela dificuldade de relacionamento, pois tem que carregar a responsabilidade que lhe foi imposta (a de ser mãe) e ainda fazer que os outros acreditem que a criança é seu irmão, dessa forma ela se sente oprimida pela moral e pelas situações de privações impostas pela guerra. Numa tentativa de fugir da dor, Agrin afoga o próprio filho e depois se lança no precipício.


Freud afirma que a civilização é responsável pelas mazelas existentes e que seria muito melhor se retornássemos ao estado primitivo. A civilização produz a anticivilização. O sofrimento representado na história da personagem Agrin é consequência de um mundo dito civilizado onde a tecnologia com o apoio do capitalismo financiou a barbárie da guerra.

Sugestão de leitura: O Mal-estar Na Civilização - Freud, Sigmund



      

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